Mundo BR 9 [Conto] O Desembarque

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O Desembarque

A proa da canoa ergueu-se gentilmente, indicando que já estavam sobre a areia. A água cristalina e mar calmo contrastavam com a ansiedade daqueles viajantes.
Torik pulou na água com a típica naturalidade de quem vive do mar. A pedidos do capitão, os outros três tripulantes da canoa se movimentaram entre algumas das tralhas que trouxeram consigo desde a galé e sentaram-se mais próximos à popa, permitindo ao capitão puxar a canoa um pouco mais areia adentro.

A paisagem era exuberante. A areia clara e fina se estendia até barrancos que delimitavam a praia da frondosa vegetação. Escarpas e morros preenchiam a paisagem além e florestas coníferas podiam ser vistas ao fundo desde aquela praia.
A brisa e o céu límpido de final de inverno davam as boas-vindas aos três viajantes, que agora esperavam na areia o capitão remar de volta à galé e fazer as outras três ou quatro viagens para trazer o resto das bagagens. Na embarcação maior, ancorada além dos bancos de areia, o resto da pequena tripulação tratava de levar as caixas e bagagens para o convés.
Tannenbaum sabia que logo seriam recepcionados e levados à vila, que não devia ser muito distante daquela praia. Ele aproveitou esse tempo para acalmar seus pensamentos na paisagem, resistindo à tentação de identificar e relacionar os morros e penhascos com os representados nos mapas que conhecia tão bem.

Erin e Czeco distraíam-se em uma animada conversa. Czeco imaginava os animais que poderiam ser caçados naquela terra, que frutas dariam nas árvores e como as ervas nativas serviriam como tempero.
Czeco não via a hora de estabelecer-se em uma taverna e pôr em prática todas as ideias que a longa viagem lhe dera tempo de pensar. Erin o conteve quando quis atravessar a faixa de areia, subir os barrancos e investigar de perto as plantas da região. Aquela era - afinal - uma província recentemente assolada pela guerra e certamente havia bandidos espalhados por toda península - ainda mais se a notícia da vinda deles tivesse se espalhado para além da vila.

Torik remava de volta à praia pela terceira vez aquela manhã quando Erin percebeu uma melodia vinda de trás dos altos arbustos que delimitavam a praia. Instintiva e rapidamente ela se aproximou da pilha de caixas e tralhas que Torik vinha acumulando na areia, longe do alcance das marolas, e trouxe a mão seu arco e laçou a aljava com um punhado de flechas pelo ombro.
Tannenbaum percebeu o assobio apenas quando Erin se aproximou dele, empunhando o arco ainda desarmado, e inconscientemente franziu a testa tentando reconhecer a melodia. Tinha a forte impressão que era uma música familiar...

Meia dúzia de lanceiros acompanhavam a pé as duas carroças que surgiram por trás da mata. Dentre os nove cavalos trazidos pela comitiva, quatro puxavam em pares as duas carroças e um outro era montado por mais um guerreiro, distinguido dos demais apenas pela montaria, um elmo emplumado e uma capa vermelha desbotada.
Havia uns oito aldeões nas carroças, em trajes simples do dia-a-dia, e à frente do grupo, marchando teatralmente, vinha o responsável pela melodia trajando roupas coloridas - também desbotadas.
- Vossa Alteza! - exclamou o que vinha à frente, se curvando exageradamente diante do trio. - Rinbin, o Menestrel, a seu serviço! - disse o bardo, com uma orgulhosa ênfase em "Menestrel".
Rinbin manteve certa distância propositalmente - não por cautela ou etiqueta, mas porque hesitara em se direcionar especificamente a qualquer um deles.
A mulher que estava no meio não poderia ser - esperavam um Duque, não uma Duquesa - e suas roupas estavam castigadas demais.
Em uma ponta havia um franzino, o mais bem vestido, mas com a barba e cabelos em total desleixo. Mesmo o bigode enrolado nas extremidades aparentava não ver um pente há dias.
O da outra ponta tinha a barba bem-feita e parecia mais atento à sua aparência, mas trajava calças curtas e um colete muito simples para um nobre - ainda que estivesse limpo e bem costurado.

Após uma breve hesitação por parte de todos, Czeco irrompeu a se apresentar com maneirismo semelhante ao do bardo, e imitando - sem sarcasmo ou chacota, mas por pura inocência - a ênfase ao se apresentar como "Chefe da cozinha da corte".
Erin relaxou a empunhadura do arco e Tannenbaum reassegurou-se que tinha em seu cinto o porta-pergaminho com o pertence mais valioso de toda aquela viagem: a carta assinada e selada pelo próprio Rei concedendo a Figgel Tannenbaum soberania sobre toda a província.

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